O repouso da inteligência é a fé
Há beleza e esperança ao ver um
bebê dormindo sereno no colo da mãe. Há também preocupação. Tão pequeno, tão
indefeso, padecendo de cólicas, vacinas dolorosas, sendo bombardeado o tempo
todo com a realidade antes ignorada quando estava na barriga da mãe. Os pais
regozijam ao trazer uma criança à luz e passam o resto da vida tentando
protegê-la das trevas.
Uma criança saudável é ávida por
conhecer. Desmonta e monta brinquedos, entra dentro dos armários e tira tudo de
dentro das gavetas, orgulha-se quando aprende o alfabeto, quer mostrar para
todo mundo suas obras de arte, inclusive as que rabiscou na parede da sala.
Para um ponto de partida, onde a
pessoa não sabe nada e quer saber alguma coisa, a avidez é combustível para a
inteligência. No entanto, ela precisa
ser domada. À medida que o ser humano cresce e amadurece, deve ajustar o senso
de proporções, amar cada coisa do jeito certo e se conformar com o fato de que
a onisciência é um atributo divino.
Se por um lado o amor ao
conhecimento é uma virtude rara no Brasil, por outro, há uma voracidade das
pessoas em ir à público expor suas opiniões, seja nas redes sociais ou na
televisão. A certeza de que o que pensam é a verdade, de que representam o bem
supremo e de que têm as soluções para exterminar o mal no mundo, acorrenta-os à
Matrix revolucionária e cega-os para a experiência da vida real. Falta-lhes
humildade. Preocupam-se em mudar a história e se esquecem de mudar a si mesmos.
Para o bebê no colo da mãe, pouco
importa não saber andar, qual o formato do planeta ou qual presidente vai
ganhar a eleição. A confiança faz com que repouse tranquilo enquanto guerras
são travadas lá fora. Ele tem sede de saber, mas onde sua inteligência não
alcança, a fé no amor materno o consola.
A Bíblia diz que devemos ter fé
como os pequeninos. Crer antes de entender. É o que as crianças fazem. Já a
escola nos ensina que só o que é passível de testes e pode ser explicado deve
ser considerado ciência, ou seja, verdade comprovada. Os bebês vão crescendo, a
humanidade vai caminhando para sua prometida evolução, o mundo vai se
desencantando, as dimensões da realidade vão se tornando opacas, a esperança se
terrestrializa.
C. S. Lewis alerta em “A abolição
do homem”, que não se pode ficar o tempo todo tentando ver o que está por trás
ou dentro das coisas a fim de encontrar o objeto real. Se o tempo todo se
buscar enxergar através de tudo, o mundo se torna transparente, invisível. Ver
o que está por trás de tudo é o mesmo que não ver nada. Há dimensões da vida
que a ciência não sabe explicar.
Uma cosmovisão moldada pela mídia
mainstream, onde a mentalidade
pós-moderna é disseminada a torto e a direito, produz uma nação passiva,
ignorante e depravada. Não é por acaso que o Brasil tem terríveis índices de
corrupção, assassinatos e baixíssimos resultados no âmbito escolar. Quem não
compreende a importância do que é sagrado e eterno, tende a querer resolver
tudo na força do próprio braço (ou na força do Partido).
A avidez da criança em ver o que
tem dentro do brinquedo a faz quebrá-lo. A avidez do homem em dar soluções
universais e definitivas para a igualdade, liberdade e fraternidade, destrói
sociedades inteiras. A inteligência do bebê repousa na fé, ali acalentado no
colo materno. A inteligência do homem pós-moderno não tem onde repousar, porque
Deus para ele está morto. Talvez, quando a morte bater à porta, ele se lembre
de clamar Abba (Pai).
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