terça-feira, 11 de julho de 2023

O repouso da inteligência é a fé


Parte da tela de Rafael: A escola de Atenas


Há beleza e esperança ao ver um bebê dormindo sereno no colo da mãe. Há também preocupação. Tão pequeno, tão indefeso, padecendo de cólicas, vacinas dolorosas, sendo bombardeado o tempo todo com a realidade antes ignorada quando estava na barriga da mãe. Os pais regozijam ao trazer uma criança à luz e passam o resto da vida tentando protegê-la das trevas.   

Uma criança saudável é ávida por conhecer. Desmonta e monta brinquedos, entra dentro dos armários e tira tudo de dentro das gavetas, orgulha-se quando aprende o alfabeto, quer mostrar para todo mundo suas obras de arte, inclusive as que rabiscou na parede da sala.

Para um ponto de partida, onde a pessoa não sabe nada e quer saber alguma coisa, a avidez é combustível para a inteligência.  No entanto, ela precisa ser domada. À medida que o ser humano cresce e amadurece, deve ajustar o senso de proporções, amar cada coisa do jeito certo e se conformar com o fato de que a onisciência é um atributo divino.

Se por um lado o amor ao conhecimento é uma virtude rara no Brasil, por outro, há uma voracidade das pessoas em ir à público expor suas opiniões, seja nas redes sociais ou na televisão. A certeza de que o que pensam é a verdade, de que representam o bem supremo e de que têm as soluções para exterminar o mal no mundo, acorrenta-os à Matrix revolucionária e cega-os para a experiência da vida real. Falta-lhes humildade. Preocupam-se em mudar a história e se esquecem de mudar a si mesmos.

Para o bebê no colo da mãe, pouco importa não saber andar, qual o formato do planeta ou qual presidente vai ganhar a eleição. A confiança faz com que repouse tranquilo enquanto guerras são travadas lá fora. Ele tem sede de saber, mas onde sua inteligência não alcança, a fé no amor materno o consola.

A Bíblia diz que devemos ter fé como os pequeninos. Crer antes de entender. É o que as crianças fazem. Já a escola nos ensina que só o que é passível de testes e pode ser explicado deve ser considerado ciência, ou seja, verdade comprovada. Os bebês vão crescendo, a humanidade vai caminhando para sua prometida evolução, o mundo vai se desencantando, as dimensões da realidade vão se tornando opacas, a esperança se terrestrializa.

C. S. Lewis alerta em “A abolição do homem”, que não se pode ficar o tempo todo tentando ver o que está por trás ou dentro das coisas a fim de encontrar o objeto real. Se o tempo todo se buscar enxergar através de tudo, o mundo se torna transparente, invisível. Ver o que está por trás de tudo é o mesmo que não ver nada. Há dimensões da vida que a ciência não sabe explicar.

Uma cosmovisão moldada pela mídia mainstream, onde a mentalidade pós-moderna é disseminada a torto e a direito, produz uma nação passiva, ignorante e depravada. Não é por acaso que o Brasil tem terríveis índices de corrupção, assassinatos e baixíssimos resultados no âmbito escolar. Quem não compreende a importância do que é sagrado e eterno, tende a querer resolver tudo na força do próprio braço (ou na força do Partido).

A avidez da criança em ver o que tem dentro do brinquedo a faz quebrá-lo. A avidez do homem em dar soluções universais e definitivas para a igualdade, liberdade e fraternidade, destrói sociedades inteiras. A inteligência do bebê repousa na fé, ali acalentado no colo materno. A inteligência do homem pós-moderno não tem onde repousar, porque Deus para ele está morto. Talvez, quando a morte bater à porta, ele se lembre de clamar Abba (Pai).

 

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