Crescemos
ouvindo as histórias de contos de fadas. Quem não se encanta com os livros e
filmes sobre a Branca de Neve, Rapunzel, Cinderela, Jasmim e Bela Adormecida? Sonhamos
em voar em um tapete mágico, admiramos os longos cabelos das princesas, nos
comovemos quando elas são maltratadas e quando correm perigo, e nos alegramos
quando enfim aparece o príncipe para salvá-las e fazê-las felizes para sempre.
Contar e ouvir histórias são um grande prazer. Contudo, quando abrimos os
olhos, nos deparamos com uma realidade que nem sempre é tão colorida quanto o
mundo da fantasia.
O
que as personagens citadas têm em comum? Mesmo que cada uma tenha sua própria
história, quais são as semelhanças que podemos apontar? As mulheres dessas
histórias são sofridas, invejadas, perseguidas, injustiçadas, no entanto ficam
à mercê do destino, sofrendo caladas e resignadas. Até que um belo dia aparece
alguém para salvá-las e enfim encontram a felicidade perpétua. Branca de Neve e
Bela Adormecida, através de um feitiço, dormem por vários anos até que os
príncipes as despertam com um beijo. Rapunzel vive muito tempo presa em uma
torre até que seu herói surge para livrá-la das garras do mal. Cinderela fica
grande parte de vida debaixo do jugo de uma madrasta cruel, recebe a ajuda da
fada madrinha para ir ao baile e perde o sapatinho ao fugir. O príncipe a
procura por todo o reino e, depois de muita persistência, encontra a garota e
se casa com ela. Talvez Jasmim seja a menos conformada com sua condição,
diferente das outras, ela já desfrutava da vida de princesa e se revolta quando
o pai quer obrigá-la a se casar.
Mesmo
amando essas histórias, que são contadas e recontadas há décadas, atravessando
gerações, não conseguimos nos identificar com essas mulheres. A vida não é fácil
para nenhuma de nós, mas, ao contrário de Cinderela e das outras, nós não
podemos viver esperando que um príncipe apareça para nos resgatar e nos fazer
felizes para sempre. Renato Russo já dizia:
Se
lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre sempre acaba...
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre sempre acaba...
Todas nós mulheres queremos ser felizes, mas não podemos
esperar que essa felicidade dependa de outra pessoa. Em um casamento, por
exemplo, é preciso perseverança, paciência, perdão, humildade, lealdade,
respeito, lágrimas e sorrisos, renúncia, oração, diálogos e mais diálogos,
brigas também, reconciliação, fé, amor e esperança. Em vários momentos
parecemos mais com bruxas do que com princesas. Nossos amados muitas vezes
também mais se assemelham a ogros do que a príncipes. Na vida real ninguém é
perfeito, ninguém tem o poder de salvar o outro e ninguém é feliz para sempre.
Vivemos um dia de cada vez, matando leões, enfrentando perigos, superando
medos, nos sentindo esgotadas e até mesmo fracassadas. Muitas vezes somos nós
mulheres que, por amor, deixamos a condição de autopiedade e resignação e vamos
à luta, fazemos cursos, lemos livros, estudamos, vamos ao médico e ao
psicólogo, buscamos ajuda, dobramos o joelho no chão e oramos ao nosso Deus, encontramos
novos caminhos rumo à felicidade e puxamos nossos cônjuges pela mão, dizendo: “Venha
comigo, quero você ao meu lado, o caminho é esse, deixe eu te mostrar...”.
Não podemos nos dar ao luxo de dormir por cem anos como a Bela Adormecida, precisamos acordar, arregaçar as mangas e trabalhar duro, não só para sermos felizes, mas também para fazer os que estão ao nosso redor felizes. Cada um é herói da sua própria jornada e, quando a Graça de Deus nos alcança, aprendemos a colocar nossa dependência e nossa esperança na pessoa certa que é Cristo. E então podemos ressignificar o “felizes para sempre”, compreendendo sabiamente o que expressam as palavras “amor”, “eternidade” e “felicidade”. O que é a felicidade pra você? Pense nisto...