quinta-feira, 13 de julho de 2023

Aprendendo a Envelhecer

 

            A arte pode nos ajudar a refletir sobre a história, sobre a política, sobre a sociedade e sobre a vida. Dentre dezenas de filmes que assisti no último ano, um em especial me chamou a atenção. O nome no Brasil é “A Incrível História de Adeline” e conta sobre a vida de uma mulher belíssima que, após um acidente inusitado, recebe uma descarga elétrica no corpo e por isso sobrevive. Contudo, a descarga elétrica (que é explicada com mais detalhes no filme) não só salva a vida de Adeline, como dá a ela a dádiva que quase toda mulher gostaria de receber: a de não envelhecer nunca.

            No mundo de hoje, principalmente no Ocidente, vemos acontecer uma corrida contra o tempo, onde homens e mulheres tentam amenizar a ação dos anos em seus corpos, submetendo-se até mesmo a procedimentos extremamente invasivos e dolorosos. Dados da  International Society of Aesthetic Plastic Surgery mostram que, no ano de 2013, cerca de 23 milhões de cirurgias plásticas foram realizadas ao redor do mundo. O Brasil aparece em segundo lugar no ranking dos países que mais realizaram procedimentos cirúrgicos desse tipo. Esse dado mostra que não são poucas as pessoas preocupadas com a estética e dispostas a gastar muito dinheiro para se manterem jovens e bonitas.

            No caso de Adeline, o destino foi generoso. Ela é uma moça deslumbrante, jovem, com curvas fabulosas e permanece assim por décadas e décadas, sem que nenhuma ruga ou fio de cabelo branco apareçam para macular sua perfeição. O mais interessante é que, embora conserve a aparência de uma jovem, Adeline vai acumulando experiência e conhecimento, o que me fez lembrar de uma frase que sempre ouço de amigos e familiares: “Queria ter a cabeça que tenho hoje, mas com minha aparência de quando era jovem”. É exatamente isso que acontece com Adeline, ela vive mais de 100 anos, mantendo a aparência jovem. A maioria das mulheres que eu conheço queria estar na pele de Adeline (confesso que eu também).

            Mas Adeline não encara sua dádiva com alegria. A começar porque todas as pessoas que ela ama morrem, enquanto ela continua forte e saudável. Tudo que ela tem afeição vai se perdendo e mudando com o tempo. Ela começa a ser perseguida, pois sua condição levanta curiosidade e espanto. Por isso, ela precisa se mudar a cada década. Muda de casa, de nome, de identidade, refaz a vida do zero, sem se apegar a mais ninguém, sem ser íntima de ninguém. Afinal, quem acreditaria nela? Além do mais, ela não quer amar mais ninguém para no fim ter de ver a pessoa amada partir.  Como ela vai namorar alguém se a pessoa vai envelhecer e ela não?

            Adeline se torna uma pessoa solitária. Até que ela conhece um homem e se apaixona. Nesse momento, se vê obrigada a escolher entre fugir e manter-se segura, ou entregar-se àquela paixão e correr todos os riscos que isso implicará.

            Sem contar todos os detalhes do filme para não estragar a graça para quem ainda não assistiu, há uma cena no final, onde Adeline se prepara para ir a uma festa e, de repente, diante do espelho, ela vê seu primeiro fio de cabelo branco. Aquilo é motivo de alegria e ela abre um largo sorriso. Puxa vida, acho que o dia em que eu encontrar um fio de cabelo branco em mim ficarei muito chateada. Mas Adeline não fica triste, aquilo era tudo o que ela queria. Ela queria envelhecer.

Esse filme me lembrou uma frase que o avô de uma amiga me disse: “A velhice é um privilégio”. Eu ainda não compreendi essa frase totalmente. Mas compreendo em parte. Hoje é possível envelhecer com saúde, mantendo a beleza, fazendo atividades físicas e se alimentando bem. Podemos chegar aos 50, 60, 70 e até 80 anos com disposição, lucidez, nos mantendo ativos, viajando, fazendo amizades, curtindo a família, estudando, trabalhando. Claro, tudo depende do nosso estilo de vida. A maneira como vivemos o agora influencia muito no nosso futuro. Todavia, há algo mais importante no fato de envelhecermos. Com a velhice, nosso corpo sofre o desgaste do tempo. Perdemos um pouco da beleza e da saúde. Por outro lado, ganhamos em sabedoria, experiência e virtudes. Temos as lembranças, as memórias, que foram se acumulando e fizeram de nós a pessoa que somos.

Não precisamos ter medo de envelhecer, pois a velhice é um privilégio. O contrário do medo não é a coragem, como muitos pensam. O contrário do medo é o amor. “No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora todo o medo” (I João 4:18). Por isso, se aprendermos o que é o amor de verdade, não teremos medo do desconhecido.

A reflexão que o filme deixou pra mim foi esta. Que a vida possa valer tanto a pena que, quando nos tornarmos idosos, possamos olhar para trás com um sorriso no rosto, felizes por tudo o que construímos, tudo o que amamos, por quem nos tornamos. E, principalmente, que não tenhamos medo. Que aprendamos a envelhecer e façamos do amor o nosso alvo.             

 

Data de lançamento: 21 de maio de 2015 (1h 53min)

Direção: Lee Toland Krieger

Elenco: Blake LivelyMichiel HuismanHarrison Ford mais

GênerosRomanceFantasiaDrama

NacionalidadeEUA


 



 

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