domingo, 23 de julho de 2017

E se Deus não quiser...

Hoje foi Domingo, dia de igreja, e a pregação do culto matutino foi justamente sobre esse tema: "E se Deus não Quiser...". (Tiago 4: 13-15)


13 Ouçam agora, vocês que dizem: 'Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro'.
14 Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.
15 Ao invés disso, deveriam dizer: 'Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo'.


O interessante é que nesse mesmo dia fui ao cinema assistir o novo filme do meu cineasta preferido, Terrence Malick, o longa "De Canção em Canção", e a mesma mensagem estava lá: "E se Deus não Quiser...". 


Bem... não é fácil encontrar as palavras certas para traduzir o abstrato, mas eu vou tentar. 

Faye é uma musicista que sonha em ter uma carreira de sucesso. Ela deseja orgulhar a família com seu trabalho, quer ser alguém, quer se destacar. Faye vive em busca de liberdade, de experiências intensas que a façam se sentir feliz e plena. Nessa busca, os dias vão passando um a um e a vida vai escorrendo por entre os dedos. O tempo não é um bom amigo quando estamos em busca de algo que se esconde no futuro. 

Boa parte do filme é em voz off e, dentre muitas frases que alcançaram meu coração como flechas, uma delas foi quando Faye diz algo mais ou menos assim: "E se eu não alcançar o sucesso? E se eu não chegar onde desejo? E se a vida não me reservar algo extraordinário? E se eu não me tornar nada além do que já sou? Se assim for, eu não terei nenhum dos dois, nem o sonho, nem a realidade, pois terei desperdiçado o agora, por estar sempre olhando para o amanhã". 


Minha vida e a da Faye não têm muito em comum, mas nessa parte me identifiquei muito. A princípio, meu sonho era o de publicar um livro. Isso se realizou em 2014 quando publiquei a primeira versão independente de "Um Ano Bom". Desde então, o sonho cresceu, ganhou mais contornos e cores, se desdobrou em metas e deu origem a outros sonhos adjacentes. Quero publicar meus livros, quero fazer da escrita uma profissão, quero me dedicar a esse trabalho em tempo integral e quero uma carreira consolidada, com um público leitor fiel, que me acompanhe, leia e ame minhas histórias. Um público que aguarde ansiosamente pelo próximo livro, e pelo próximo, e pelo próximo... assim por diante. 

Se eu já me senti desanimada? Sim, muitas vezes. Começar a construir algo do zero nunca é fácil. Contudo, descobri que escrever é uma das coisas que eu mais amo na vida e, mesmo que eu decidisse não publicar mais nada, não iria conseguir parar de escrever. Isso faz parte da minha personalidade. Escrever não envolve apenas meus conhecimentos técnicos. Tem a ver com a minha alma, com quem eu sou. 

Hoje, no culto de manhã e durante o filme de Malick, me peguei pensando... E se Deus não quiser? E se não for para ser? E se meu sonho não se tornar realidade? Confesso que vivo todos os dias esperando o momento em que minha carreira irá decolar. Pensar que isso pode nunca acontecer é algo amedrontador e triste. Não exatamente pela fama e pelo dinheiro, esse não é o ponto. Triste porque eu quero que o mundo conheça as histórias que eu invento, eu as acho maravilhosas e quero de todo o meu coração compartilhá-las com as pessoas. Pensar que isso pode nunca acontecer parte meu coração. E aí vem a reflexão de Faye, a moça do filme: Se eu passar minha vida esperando pelo sucesso e ele não vier, terei deixado de viver o presente por estar tão concentrada no futuro. Isso é um erro. 

C. S. Lewis também fala disso em algum de seus livros, já não me recordo qual. Lewis nos lembra do verso da oração que diz "o pão nosso de cada dia dai-nos hoje". O "hoje" é a única coisa que temos. "Hoje" eu recebi a mensagem de uma leitora dizendo o quanto amou meu livro. Hoje eu abri os olhos de manhã, me levantei da cama quentinha, tomei um café gostoso, fui à igreja, passei tempo com meu esposo, assisti a um bom filme, pensei em Deus, pensei em mim, pensei na vida... Daqui a pouco vou dormir de novo e só Deus sabe o que o amanhã me reserva. Não posso viver esperando as coisas acontecerem. É como se pulássemos as páginas de um livro a fim de chegarmos depressa ao capítulo final. Não tem graça. São justamente as páginas que não damos importância que contém os detalhes mais preciosos. É por isso que, quando lemos o mesmo livro duas vezes, compreendemos muito melhor a histórias toda, enxergando as coisas simples que nos passaram despercebidas. 

A felicidade não está escondida no final do arco-íris, ela é revelada no caminho, em cada passo que damos. Assim como a luz é a origem do arco-íris, é também a Luz a origem da verdadeira felicidade. É exatamente essa Luz que eu busco quando escrevo, quando assisto aos filmes de Terrence Malick, quando vou à igreja, quando reflito sobre quem eu sou e para onde quero ir. 

"Meu coração está doente", Faye diz em algum momento no filme. Doente porque ela busca no mundo aquilo que ela só pode encontrar na eternidade. Os filmes de Malick são sobre isso, transcender. E, muitas vezes, é através da dor que conseguimos finalmente parar de olhar para nós mesmos e levantar os olhos para o céu. 

Termino com alguns versos de minha autoria, fragmentos de um poema que escrevi há muito tempo:

Em momentos de crise
Minha identidade fica abalada
Minhas qualidades são questionadas
Meu nome se torna um nome qualquer

Em momentos de Graça
Quando Tua Glória me alcança
Tenho absoluta certeza de quem sou
E nenhuma dúvida do Teu amor.

Se Deus quiser, eu serei uma escritora de sucesso, com uma carreira consolidada. Mas, se Deus não quiser, continuarei escrevendo para mim mesma, a fim de transcender, em busca da Luz que fará imortal a minha humanidade.