terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Quando os sonhos se tornam fardos


Quando eu era criança e até mesmo quando eu era adolescente, costumava ter muitos sonhos. Sonhava em conhecer o Daniel Johns do Silverchair, em participar de uma banda de rock, em trocar uma ideia com o Marcelo D2, em ter uma profissão que ajudasse a mudar o mundo, sonhava em fazer 18 anos e ser dona do meu nariz, sonhava morar sozinha e ter meu próprio AP... Sonhava em viajar, em entrar na faculdade, em ter sempre muitos amigos, em ser importante, em conhecer o mundo... Sonhava em ser feliz. Acho que nem me lembro todos os sonhos que tive.
O tempo foi passando, alguns sonhos eu realizei, outros não... Acho que isso acontece com todo mundo, alguns sonhos se realizam, outros não.
O estranho é que, alguns sonhos que eu realizei, ao invés de me fazerem feliz como eu esperava e me deixarem satisfeita, tornaram-se fardos. Sim, isso mesmo, começaram a pesar sobre meus ombros, me trouxeram desgaste emocional, me fizeram chorar ao invés de sorrir e me fizeram sentir frustrada ao invés de satisfeita.


O que será que houve? Onde foi que eu errei o tom? Quando foi que o que era pra ser bom se tornou motivo de angústia?
Realmente não sei dizer os motivos. Talvez minhas expectativas estivessem erradas. Talvez eu não tenha avaliado bem as consequências das minhas escolhas. Talvez eu vivesse de ilusões e utopias e o choque de realidade tenha sido assustador demais.
O fato é que, quando os sonhos se tornam fardos, precisamos ter coragem para desistir. Voltar alguns passos para trás, avaliar melhor a direção a seguir antes de recomeçar a caminhar.
Nos últimos dois anos, cheguei a esta curva na estrada. Desisti de muitos sonhos e recuei um pouco para avaliar melhor as escolhas que devo fazer.
Quando eu era mais nova, acreditava mais em mim mesma. Hoje em dia meus pensamentos estão sempre me dizendo que é impossível. Acho que esqueci como sonhar.
Você já se sentiu assim? Como conseguiu dar a volta por cima?
A cada dia percebia que meu maior inimigo era eu mesma, o tempo todo me sabotando, me comparando com outras pessoas, me esfregando na cara tudo o que eu não tenho e tudo o que eu não sou...
Não podemos viver assim! É preciso vencer os pensamentos ruins, as emoções descontroladas, os defeitos de personalidade e de caráter. É preciso acreditar que podemos ser melhores a cada dia, como seres humanos e como profissionais, em tudo o que fazemos.
É normal que pessoas joguem baldes de água fria sobre nós quando compartilhamos algum plano, mas não se apegue à opinião dos outros. Não são eles seu maior empecilho e sim você mesmo. Você precisa vencer sua mente e seu coração quando dizem para você parar, quando dizem que não é capaz, quando dizem que é impossível.
Sim, aos meus olhos, é impossível que este blog faça sucesso, é impossível que meus vídeos no Youtube tenham muitas visualizações, é impossível que o Brasil inteiro e até o mundo conheçam meus livros. Então, puxa vida, o melhor a fazer é desistir agora. Certo?
Errado!
Todos os blogueiros, youtubers e escritores começaram do zero e, com muita dedicação, trabalho e disciplina, foram conquistando seu público e vencendo degrau por degrau.
Se eu desistir agora, realmente jamais chegarei a lugar algum. Mas se eu continuar trabalhando duro, eu acredito que chegarei a algum lugar mais longe e mais alto do que o lugar que estou hoje.
Xô ansiedade! Xô desânimo! Eu não vou parar de sonhar.
E sabem por quê? Porque eu amo cada história que escrevo, cada vídeo que gravo, cada poema que componho, cada palestra que ministro, cada texto que produzo... E meu maior sonho hoje é que minha arte e minhas palavras levem esperança para as pessoas e ajudem a humanidade a se lembrar de que o bem sempre vence no final.
Tudo pertence a Deus e os sonhos Dele para mim se cumprirão, eu creio.
Querido leitor, se você se identificou com este texto e já passou por algo assim, por favor deixe nos comentários e compartilhe esse post.
Grande beijo,
Ana Faria.



sábado, 17 de dezembro de 2016

Bobók e o Mundo dos Mortos

Em Bobók (1873), o autor Fiódor Dostoiévski apresenta uma crítica aos críticos de sua obra. Faz uma análise também da sociedade russa em que vivia, através de um conto que consegue ser engraçado mesmo que a maior parte de seus personagens esteja morta. Sim, alguns personagens estão mortos! O texto se desenvolve na forma de narrativa em primeira pessoa de Ivan Ivánitch, que tem o ofício de escritor e tradutor e vai ao enterro de um parente distante para cumprir a convenção social. Começa a observar o cenário e o comportamento das pessoas e demora-se por lá, por isso acaba se deitando em um bloco de pedra. Meio sonolento, ele começa a ouvir uma conversa abafada e quando aguça os ouvidos para compreender melhor o que as pessoas diziam, surpreende-se com o diálogo dos mortos enterrados por ali há menos de um ano.
Alguns já têm clareza de que estão mortos, outros ainda estão despertando, ainda confusos. De toda forma a conversa inicia entre dois homens e aos poucos, outros homens e mulheres vão se agregando, formando uma confraria. O diálogo vai se desenvolvendo até quase atingir seu clímax, que é interrompido pelo espirro de Ivan Ivánitch no “andar de cima”, o que faz com que os defuntos se calem. Estavam dispostos a contarem suas histórias sem mentiras, sem esconder os podres, a fim de rir e aproveitar os últimos meses de consciência. Um deles afirma que vida e mentira são sinônimos. Agora que estão mortos, não precisam mais mentir sobre nada, não precisam se envergonhar de mais nada. Podem se despir completamente de toda roupa e moral. Não há arrependimento.
Quando a conversa é interrompida, o narrador sai desatinado, determinado a voltar para ouvir o restante daquela balbúrdia. E está impressionado. Não consegue compreender como pode haver perversão em um lugar como este. Mesmo após a morte ainda querem viver como antes ou ainda pior. “Isto eu não posso admitir...”, ele diz.
O que impressiona é exatamente isso. Como os mortos estão ainda presos à vida terrena e como a perversão ainda impregna o caráter deles a ponto de não se preocuparem com os erros do passado, com os entes que deixaram órfãos, com o futuro ou o juízo que os aguarda. Organizam-se de modo a aproveitar o pouco de vida e consciência que lhes restam para rir, se divertir e se dar ao prazer. Nada disso é digno de ser eterno e se assim for, o fim será mesmo definitivo.

O autor e teólogo C. S. Lewis explica em seu livro Os Quatro Amores, e em outras de suas obras, que só o que foi tocado e transformado pelo Amor Absoluto tem esperança na eternidade. Se a transformação de mente e coração não se inicia na vida terrena, fica difícil alguma transformação nos atingir após a morte. A promessa de perfeição não nos foi dada nesse momento e sim num futuro apocalíptico. Contudo é possível, como Francis A. Schaeffer defende em sua obra “Verdadeira Espiritualidade”, de momento em momento, ou de glória em glória como disse o apóstolo Paulo, através da conformação de nossas mentes e coração à pessoa e exemplo de Jesus Cristo, nos tornar seres humanos melhores, mais próximos à imagem e semelhança de Deus como fomos criados originalmente para ser. Aí sim teremos algo que valha à pena ser eterno. 


Liberdade, Natureza e Identidade


            Lançado em 15 de janeiro de 2015, o filme “Livre” (Wild) baseado em um best-seller autobiográfico tem emocionado expectadores do mundo todo. Me lembrou em partes o filme “Na Natureza Selvagem” (Into the Wild) de 2008, também baseado em um livro biográfico. Ambos livros/filmes contam a história de seres humanos perdidos emocionalmente, tentando se encontrar de alguma forma “perdendo-se” na natureza.
“Livre” conta a história de Cheryl Strayed, jovem estadunidense inteligente e saudável, que vive graves problemas pelo casamento arruinado e pelo luto profundo em razão da morte da mãe. As formas com que a garota tenta fugir da tristeza não são nada sábias e ela acaba sendo sugada cada vez mais para situações de tristeza, solidão e esgotamento emocional. Para tentar se encontrar e descobrir um pouco mais sobre a beleza da vida que sua mãe tanto insistia em lhe mostrar, Cheryl decide percorrer a Pacific Crest Trail (PCT), uma trilha de 1.770 km pela costa oeste dos Estados Unidos.
“Na Natureza Selvagem” conta a história de Christopher McCandless, um jovem estadunidense recém-formado na faculdade, que decide percorrer uma longa jornada saindo de Atlanta em direção ao Alasca. Ele parte para essa viagem sem avisar sua família, que ficou sem notícias até o fim. Chris era aventureiro e sonhador, não concordava com o sistema econômico, o qual achava materialista e opressor. Tinha problemas de relacionamento com a família, em especial com o pai. Era ressentido por causa das mentiras e memórias dolorosas de violência verbal, brigas, rispidez, falta de diálogo por parte dos pais.
Tanto Cheryl quanto Chris entram na natureza sozinhos, deixando para trás as pessoas que os amavam, para longos dias de autoconhecimento, reflexão, desafios físicos e mentais, experiências únicas de êxtase e também de desespero. Ambos levam consigo seu repertório de autores que os inspiram: poemas, livros, músicas. Ambos são leitores vorazes e encontram companhia nos seus autores favoritos. Fazem deles seus amigos íntimos. Fazem da natureza sua amiga íntima... Mas muitas vezes a natureza se torna inimiga. Ao longo da viagem, os dois andarilhos fazem amigos, recebem ajuda, conhecem outras pessoas e também suas histórias tristes. Observa-se que, embora tenha existido planejamento para a viagem, nem Cheryl, nem Chris estavam realmente preparados para o que se propuseram a fazer. E os problemas que enfrentam provam isso para eles. Ao fazer esportes radicais, sempre arriscamos a vida, mas logicamente onde há ignorância o risco é bem maior.
E eis a pergunta: eles encontraram o que estavam buscando? O que de fato eles estavam buscando? O que de fato NÓS estamos buscando em nossa jornada? Talvez, por estarem perdidos, ou emocionalmente conturbados, ou moralmente revoltados e decepcionados, Cheryl e Chris tentaram buscar na natureza respostas para seus dilemas. Talvez estivessem tentando descobrir sua verdadeira identidade. A solidão realmente ajuda quando queremos refletir. Contudo, de acordo com C. S. Lewis, “se você adota a natureza como mestra, ela lhe ensina exatamente as lições que você decidiu aprender antecipadamente; em outras palavras, a natureza não ensina. (...) O único comando que a natureza expressa é: observe; ouça; fique atento” (LEWIS, 2013, p. 28).
Em “Livre” e em “Na Natureza Selvagem” não há menção de nenhuma forma de relacionamento dos protagonistas com Deus. Talvez algum tipo de crença ou misticismo, mas não há um relacionamento real, uma fé sólida. E isso é crucial. O ser humano tenta encontrar sua identidade de muitas formas: nos autores que gosta, na profissão que exerce, nos filósofos que concorda, nos amigos que admira, no estilo de vida que ostenta... Mas a nossa identidade não está aí. Parece ser lógico que quanto mais eu me conheço, mais nítida e sólida é minha identidade, mas não funciona assim. Para saber quem sou, preciso saber quem Deus é. A lógica é: quanto mais eu conheço a Deus, mais eu conheço o ser humano, pois a identidade do ser humano está em Deus. Para ler mais sobre isso sugiro o autor Soren Kierkegaard, que mostra em sua obra que a cura para Cheryl Strayed, Christopher McCandless, eu e você, vem em amor, pelo encontro com a graça de Deus. Só assim podemos ter consciência de quem nós somos.
Quando o ser humano encontra sua identidade em Deus e com Ele cultiva um relacionamento, situações como as que Cheryl e Chris passam são vivenciadas sem que sejamos destruídos: enfrentar o luto, as crises no casamento, a necessidade do perdão, a tomada de decisões, superar desilusões e mágoas, etc. Se, quando estamos sozinhos, encontramos o desespero, por outro lado, quando estamos em Deus, de acordo com o apóstolo Paulo, há esperança mesmo que tudo pareça desmoronar. Pois quando estamos fracos aí então é que somos fortes, porque podemos enfim admitir que precisamos Daquele que é infinitamente melhor do que nós e nos ama incondicionalmente.
Sem mais mergulhos teológicos, ambos os filmes e, certamente, os respectivos livros que lhes deram origem (posso dizer com certeza sobre “Na Natureza Selvagem” porque já li. “Livre” pretendo ler em breve) são imperdíveis e estão no topo da minha lista. Embora eu tenha feito um paralelo, “Na Natureza Selvagem” é superior e é um dos melhores filmes que eu já vi em toda a minha vida. Os dois filmes têm uma trilha sonora de alta qualidade, paisagens magníficas, sugestões de leituras de livros e poemas excelentes, atuação esplêndida de seu elenco e, é claro, um convite profundo à reflexão sobre o eu comigo mesmo, o eu com a natureza (criação) e o eu com Deus (Criador).

Assista aos trailers:

Na Natureza Selvagem


Livre




Referências:
 LEWIS, C. S. Os Quatro Amores. São Paulo: Martins Fontes, 2013, p. 28.
KRAKAUER, J. Na Natureza Selvagem. São Paulo: Cia das Letras, 2008, 2013 p.
STRAYED, C. Livre. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, 376 p.  



Lembranças (Poema)

Lembranças


Onde está aquele velho amigo?
E os camaradas de sala?
E aquele vizinho bandido?
E aquele moleque de ideias viradas?

Onde está aquela moça de lábios tão doces?
Aquela garotinha de olhos vermelhos?
Aquele professor pirado?
E os cachos dos meus cabelos?

Onde estão os sonhos mais belos?
As canções mais harmônicas?
Os girassóis amarelos?
E aquelas paixões platônicas?

Ah, juventude, passaste tão depressa!
Nem percebi que se esgotava
Que pelos meus dedos escapava


E agora se resume em preciosas lembranças.





sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Quando precisamos desistir…



Era o primeiro dia de aula no curso de padaria quando meu novo professor, em seu discurso de apresentação,contou que muitos alunos desistiam do curso no meio do caminho e que eu deveria perseverar até o final, pois, segundo ele, tudo que a gente desiste acaba se tornando um peso sobre nossos ombros para o resto da vida. Fiquei com esta frase na cabeça. Lembrei de tantas coisas que eu havia abandonado: violão, violino, bateria, francês, blogs, cursos de curta extensão, textos, amigos, sonhos… Nem tudo se tornou um peso sobre meus ombros, mas, às vezes, me pego pensando que, se eu tivesse perseverado no violino por exemplo, já seriam quase 10 anos tocando e provavelmente eu já estaria razoavelmente boa. Ainda tenho o sonho de tocar ao menos uma música no violino. Como isso é quase um sonho remoto, acabo inventando algum personagem de uma de minhas histórias que toca violino com excelência. Vou realizando meus sonhos através de meus personagens.
Sim, eu concluí o curso de padaria. E sim, foi bom não ter desistido. Mas, de lá pra cá, já desisti de muitas outras coisas.
Há algum tempo eu assisti a um filme chamado “Livre”, que conta a história real de uma moça que perdeu a mãe e ficou revoltada com a vida. Ela acabou se metendo com drogas e estragando seu casamento. O triste é que ela realmente amava o marido e o perdeu por sua própria culpa. Após mais essa perda, ela decide percorrer uma trilha imensa (nos EUA) com uma mochila nas costas e uma botina nos pés. A ideia era o autoconhecimento através da solidão, da reflexão, do contato com a natureza e da releitura de livros que marcaram sua vida.

A certa altura da viagem, ela encontra um velho casal de fazendeiros que a hospeda por uma noite, dando a ela jantar, a permite tomar um banho e descansar um pouco em sua casa. Quando o homem a leva de volta para a estrada, antes de de despedirem, ele diz que reprova a ideia maluca da moça de percorrer sozinha uma trilha tão extensa. Ela pergunda a ele: “Acha que eu devo desistir?”. Ele responde que sim, que ele acha que ela deve desistir, porém que ela não deveria lhe dar ouvidos, pois ele havia desistido de muita coisa na vida: casamentos, empregos, sonhos, projetos… A garota então pergunda a ele se ele se arrepende de ter desistido dessas coisas. O fazendeiro diz que não se arrepende, pois tudo o que ele desistiu era porque não aguentava mais.
Esse trecho do filme também me marcou. Se por um lado, as desistências se tornam um peso sobre nossos ombros, por outro lado, muitas vezes quando desistimos é porque chegamos ao nosso limite e não damos mais conta de prosseguir. No fim tudo se desvanece em lembranças e fazem de nós o que somos hoje. Não sou violinista, não falo francês, não tenho um blog consolidado e muito visualizado… Mas, mesmo assim, ainda tenho muitos sonhos e muitos desejos. Só espero que, no fim da vida, meus arrependimentos não sirvam para me tornar uma pessoa amargurada, mas sim uma pessoa mais sábia, mais mansa e mais próxima da plenitude. Não dá para viver sem desistir de nada. Mas creio que, mesmo com tudo o que abandonamos, perdemos e abrimos mão, a felicidade ainda é algo verdadeiro se soubermos dar o valor certo a cada coisa.

Confira o trailer do filme:


Arrumando a Bagunça


Esses dias dei a "loka" e decidi arrumar a bagunça do meu armário. Estava protelando há muito tempo, mas dessa vez não adiei nem mais um dia. Tirei tudo de dentro: roupas, sapatos, acessórios, cosméticos, etc. O quarto ficou um caos. Em meio a tanta coisa, me deparei com peças de roupa e bijuterias que eu nem me lembrava que tinha. Algumas da década de 90. Senti um pouco de nostalgia ao me lembrar de quando as usava e de como eu era na época. Ao olhar à minha volta e ver toda aquela bagunça, me senti desanimada, mas mesmo assim não desisti e prossegui até o fim da tarefa. Só depois de tirar tudo de dentro do armário é que consegui separar as coisas que eu não queria mais e poderiam ser doadas, as coisas que não prestavam mais de jeito nenhum e iriam para o lixo, e as coisas que mereciam ficar comigo. Consegui organizar melhor as gavetas e o cabideiro, para ficar mais fácil visualizar tudo e escolher o que usar em cada momento. O que uso com mais frequência coloquei em lugares de mais fácil acesso, o que uso menos, coloquei nas partes mais mais altas ou no fundo das gavetas. Confesso que demorei horas para concluir a arrumação e no fim eu estava exausta e cheia de dores pelo corpo. Mas fiquei feliz. Quando olhei para tudo organizadinho e limpinho, me senti aliviada e respirei fundo, com a sensação de dever cumprido. Era como se um peso saísse dos meus ombros.
Na vida é assim também. Vamos acumulando tanta coisa e protelando a resolução de problemas que chega uma hora que precisamos arrumar a bagunça da nossa vida, a bagunça do nosso coração e da nossa mente. Quando falo "coração" não digo apenas este órgão dentro do peito, mas sim a gente por inteiro. E isso inclui relacionamentos, trabalho, compromissos, estudos, livros para ler, alimentação, atividades físicas, comportamentos que temos e que são muito feios... Tem momentos em que olhamos para nós mesmos e tudo parece um caos: nossa alimentação está uma droga; não fazemos atividades físicas e somos muito sedentários; ficamos muito tempo sem conversar com os amigos e dar um telefonema ou mandar um carta; nosso relacionamento com a família está meio estranho e distante; não estamos satisfeitos com nosso trabalho e fazemos as obrigações de qualquer jeito, sem ânimo; estamos sem vontade de ler, de aprender coisas novas, de sonhar novos sonhos... Não sei se vocês já passaram por isso, mas às vezes parece que tudo na nossa vida é uma porcaria, nos sentimos fracassados e inúteis.
Precisamos dar um basta nessa bagunça e partir para a arrumação. E não há ninguém que possa arrumar nossa vida além de nós mesmos. Claro, Deus é Senhor de tudo e Ele pode todas as coisas. Mas grande parte do que Ele faz na nossa vida precisa que estejamos de coração aberto. E a ilustração do armário bagunçado é boa para entendermos o processo: precisamos jogar tudo pra fora para termos uma visão melhor do que é preciso eliminar de nossa vida, do que precisamos abrir mão, daquilo que nos prejudica e não pode permanecer. Precisamos visualizar o que é importante e precisa ser cuidado. Mudar hábitos não é uma tarefa fácil, entretanto vale muito a pena.  
Somos seres humanos por inteiro então precisamos nos cuidar por inteiro. E foi isso que eu fiz. Comecei mudando os hábitos alimentares, tentando introduzir alimentos saudáveis e não industrializados na minha dieta, bebendo mais água (a meta é 2 litros por dia). Fui a um psicólogo, fui ao psiquiatra e a outros médicos que eu precisava e estava adiando. Eu não tenho preconceito quanto a tomar remédios. Se consulto um médico e ele me receita algo, eu tomo sim, porque sei que é para o meu bem. Contudo, nem sempre só o remédio basta. Quando o assunto é sobre a mente agitada ou triste, também é preciso fazer atividades físicas, sair mais com os bons amigos, procurar atividades que nos façam sintir úteis... Então, além dos médicos e terapeuta, também fui para a academia (spinning e zumba). Comecei a pensar no que eu não queria mais em minha vida e precisava desistir (falo melhor sobre quando precisamos desistir em outro post aqui no blog). 
Assim como arrumar a bagunça do armário não é tarefa fácil, arrumar a vida é ainda mais complexo. É cansativo e às vezes temos vontade de desistir. Mas, no fim, vale a pena, pois os resultados são muito bons.

O mais difícil talvez não seja arrumar a bagunça, e sim manter tudo arrumado. A chave é a disciplina. Tudo na vida precisa de disciplina. Manter o armário organizado, perseverar na boa alimentação, na atividade física. Perseverar em manter saudáveis as relações com nossa família e com nossos amigos. Deixar o ego de lado e aprender a enxergar o outro. Amar as pessoas quando elas nos tratam bem e fazem tudo do jeito que gostamos é fácil. O difícil é amar as pessoas com os seus defeitos, mesmo quando elas nos magoam ou nos decepcionam. "Amar aquilo que não tem nada de amável", como disse C. S. Lewis.
A fé, a esperança e o amor são as principais virtudes que precisamos desenvolver. Através dessas três virtudes conseguimos continuar caminhando, enfrentando os desafios e prosseguindo para o alvo. 
Não se esqueça que você pode pedir ajuda. Não precisa lutar sozinho. Os amigos, a igreja, um terapeuta, sua própria família, enfim... Deixe o orgulho de lado e peça ajudar se precisar. Pode ser que a bagunça esteja tão grande a ponto de nos deixar doentes e precisamos de ajuda para sair desse caos e organizar a vida, a mente e o coração. 
 Espero que este texto tenha ajudado vocês d alguma forma. Fiquem à vontade para comentar e compartilhar. Grande abraço. 
Tem um vídeo no meu canal sobre este mesmo assunto. Confira lá: