sábado, 27 de maio de 2017

Meu Cabelo não é minha Identidade

Há algum tempo tenho acompanhado vídeos no Youtube e posts em blogs e Facebook falando sobre o processo de transição pelo qual algumas mulheres decidiram passar para parar de alisar os cabelos e deixar os cachos naturais. Não é à toa que diversos novos produtos para cabelos cacheados surgiram no mercado e ganham cada vez mais espaço nas prateleiras das lojas e nas mídias. Acho tudo isso bem legal, pois aprendi muitas técnicas para cuidar dos cabelos em casa e conseguir deixar meus cachinhos mais modelados e bonitos. O que me incomoda nisso tudo é a ideia de que deixar de alisar os cabelos tem a ver com assumir uma identidade. Se deixar os cabelos do jeitinho natural é assumir nossa verdadeira identidade, então não poderíamos pintá-los nem mesmo quando os fios brancos começassem a aparecer, nem usar extensões, nem fazer escova ou chapinha... Pois no discurso que ouço por aí, alisar os cabelos é não aceitar sua identidade. Não concordo com esse discurso. Nós mulheres gostamos de fazer unhas, nos maquiar, usar uma roupa bonita, delinear as sobrancelhas, usar lentes coloridas nos olhos, hidratar e fazer penteados nos cabelos, fazer dieta, ir à academia, algumas até encaram plásticas. Quase ninguém sai de casa do jeitinho que acordou. Mudar o visual, cachear, alisar ou pintar os cabelos nada tem a ver com identidade. Meus cabelos não são minha identidade. Se olharem minhas fotos no Facebook, perceberão que já tive meus cabelos de cores e tamanhos diversos, às vezes faço escova, às vezes uso cacheado, gosto de ter estilos variados. Uso minha criativiade e ideias que copio da internet para criar meu visual.



Quem é careca então perde a identidade? Não! Identidade tem a ver com caráter. Posso ter os cabelos mais bonitos do mundo e, ao mesmo tempo, ser uma pessoa cruel, invejosa, egoísta e egocêntrica. Minha identidade tem a ver com minha cosmovisão, ou seja, o que eu penso sobre as perguntas "de onde vim" e " pra onde vou". Minha identidade tem a ver com o Deus que eu sirvo. Sabendo que fui feita à imagem e semelhança Dele, quanto mais O conheço, mais conheço a mim mesma. Minha identidade tem a ver com o modo como me relaciono com Deus, com a natureza, comigo mesma e com as pessoas. Minha identidade tem a ver com aquilo que eu amo, com aquilo em que deposito minha esperança, com aquilo que eu acredito ser necessário para ser feliz, com meus valores e princípios, com minhas virtudes e vícios. Minha origem étnica, familiar, minha nacionalidade podem até ter sim a ver com minhas características físicas e culturais, mas minha identidade vai muito além do idioma que eu falo, com a cor da minha pele ou a textura dos meus cabelos. Identidade tem a ver com quem eu sou no mundo, com quem eu sou no meu trabalho, na minha vizinhança, na minha igreja. Identidade tem a ver com quem eu sou em Cristo. Posso abandonar a chapinha e assumir meus cachos, mas isso não fará de mim uma pessoa melhor que antes. O que faz eu ser melhor a cada dia é ter a humildade para admitir que ainda tenho muito o que aprender, ainda tenho muito a caminhar, ainda preciso domar o meu ego, ter compaixão do próximo e preocupar menos com o meu "eu" e mais com o que Deus quer de mim e com o que eu posso fazer pelas pessoas. Preocupamos em levantar bandeiras em prol de um mundo melhor e uma sociedade mais justa. Nessa luta militante passamos a ser rápidos em julgar e condenar os que pensam e agem diferentes de nós. Mundo melhor e sociedade justa são utopias. Sociedade não é um ser com vida própria. Sociedade somos cada um de nós. Se quero uma sociedade justa, preciso ser uma pessoa justa, generosa, tolerante, que respeita e ama o próximo, que não se acha superior a ninguém. Um mundo melhor só existirá quando pararmos de nos preocupar se a colega alisa ou cacheia os cabelos, para nos preocupar se ela precisa de um ombro amigo, uma oração, uma cartinha, um telefonema, um prato de comida, enfim, com seu bem estar.
Se nos preocuparmos com nosso caráter assim como preocupamos com nossos cabelos, isso já será é um bom começo para o nosso amadurecimento e para que o mundo fique um pouquinho melhor.