A arte pode nos ajudar a refletir
sobre a história, sobre a política, sobre a sociedade e sobre a vida. Dentre
dezenas de filmes que assisti no último ano, um em especial me chamou a
atenção. O nome no Brasil é “A Incrível História de Adeline” e conta sobre a
vida de uma mulher belíssima que, após um acidente inusitado, recebe uma descarga
elétrica no corpo e por isso sobrevive. Contudo, a descarga elétrica (que é
explicada com mais detalhes no filme) não só salva a vida de Adeline, como dá a
ela a dádiva que quase toda mulher gostaria de receber: a de não envelhecer
nunca.
No mundo de hoje, principalmente no
Ocidente, vemos acontecer uma corrida contra o tempo, onde homens e mulheres
tentam amenizar a ação dos anos em seus corpos, submetendo-se até mesmo a
procedimentos extremamente invasivos e dolorosos. Dados da International
Society of Aesthetic Plastic Surgery mostram que,
no ano de 2013, cerca de 23 milhões de cirurgias plásticas foram realizadas ao
redor do mundo. O Brasil aparece em segundo lugar no ranking dos países que
mais realizaram procedimentos cirúrgicos desse tipo. Esse dado mostra que não
são poucas as pessoas preocupadas com a estética e dispostas a gastar muito
dinheiro para se manterem jovens e bonitas.
No caso de Adeline, o destino foi
generoso. Ela é uma moça deslumbrante, jovem, com curvas fabulosas e permanece
assim por décadas e décadas, sem que nenhuma ruga ou fio de cabelo branco
apareçam para macular sua perfeição. O mais interessante é que, embora conserve
a aparência de uma jovem, Adeline vai acumulando experiência e conhecimento, o
que me fez lembrar de uma frase que sempre ouço de amigos e familiares: “Queria
ter a cabeça que tenho hoje, mas com minha aparência de quando era jovem”. É
exatamente isso que acontece com Adeline, ela vive mais de 100 anos, mantendo a
aparência jovem. A maioria das mulheres que eu conheço queria estar na pele de
Adeline (confesso que eu também).
Mas Adeline não encara sua dádiva
com alegria. A começar porque todas as pessoas que ela ama morrem, enquanto ela
continua forte e saudável. Tudo que ela tem afeição vai se perdendo e mudando
com o tempo. Ela começa a ser perseguida, pois sua condição levanta curiosidade
e espanto. Por isso, ela precisa se mudar a cada década. Muda de casa, de nome,
de identidade, refaz a vida do zero, sem se apegar a mais ninguém, sem ser
íntima de ninguém. Afinal, quem acreditaria nela? Além do mais, ela não quer
amar mais ninguém para no fim ter de ver a pessoa amada partir. Como ela vai namorar alguém se a pessoa vai
envelhecer e ela não?
Adeline se torna uma pessoa
solitária. Até que ela conhece um homem e se apaixona. Nesse momento, se vê obrigada
a escolher entre fugir e manter-se segura, ou entregar-se àquela paixão e
correr todos os riscos que isso implicará.
Sem contar todos os detalhes do
filme para não estragar a graça para quem ainda não assistiu, há uma cena no
final, onde Adeline se prepara para ir a uma festa e, de repente, diante do
espelho, ela vê seu primeiro fio de cabelo branco. Aquilo é motivo de alegria e
ela abre um largo sorriso. Puxa vida, acho que o dia em que eu encontrar um fio
de cabelo branco em mim ficarei muito chateada. Mas Adeline não fica triste,
aquilo era tudo o que ela queria. Ela queria envelhecer.
Esse
filme me lembrou uma frase que o avô de uma amiga me disse: “A velhice é um
privilégio”. Eu ainda não compreendi essa frase totalmente. Mas compreendo em
parte. Hoje é possível envelhecer com saúde, mantendo a beleza, fazendo
atividades físicas e se alimentando bem. Podemos chegar aos 50, 60, 70 e até 80
anos com disposição, lucidez, nos mantendo ativos, viajando, fazendo amizades,
curtindo a família, estudando, trabalhando. Claro, tudo depende do nosso estilo
de vida. A maneira como vivemos o agora influencia muito no nosso futuro.
Todavia, há algo mais importante no fato de envelhecermos. Com a velhice, nosso
corpo sofre o desgaste do tempo. Perdemos um pouco da beleza e da saúde. Por
outro lado, ganhamos em sabedoria, experiência e virtudes. Temos as lembranças,
as memórias, que foram se acumulando e fizeram de nós a pessoa que somos.
Não
precisamos ter medo de envelhecer, pois a velhice é um privilégio. O contrário
do medo não é a coragem, como muitos pensam. O contrário do medo é o amor. “No
amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora todo o medo” (I João 4:18). Por
isso, se aprendermos o que é o amor de verdade, não teremos medo do
desconhecido.
A
reflexão que o filme deixou pra mim foi esta. Que a vida possa valer tanto a
pena que, quando nos tornarmos idosos, possamos olhar para trás com um sorriso
no rosto, felizes por tudo o que construímos, tudo o que amamos, por quem nos
tornamos. E, principalmente, que não tenhamos medo. Que aprendamos a envelhecer
e façamos do amor o nosso alvo.
Data de lançamento: 21 de
maio de 2015 (1h 53min)
Direção: Lee Toland Krieger
Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford mais
Gêneros: Romance, Fantasia, Drama
Nacionalidade: EUA
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